quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Serra do Gerês: um equívoco

Em tempos li o original de um artigo de opinião escrito a 28 de Fevereiro de 1986 enviado para o Jornal Correiro do Minho, e que hoje me impressiona pela sua actualidade.

Apesar de ter sido escrito há 24 anos, bem poderia ter sido escrito neste dia pois o que os autores lá referem adapta-se que nem uma luva à situação actual do Parque Nacional da Peneda-Gerês e à forma como muitas pessoas usufruem desta área protegida. Atrevo-me até a dizer que sem dúvida é um texto escrito com uma visão muito antes do seu tempo e algumas das ideias então defendidas fazem todo o sentido nos nossos dias.

É sem dúvida um artigo sobre o qual deveriamos reflectir...

Serra do Gerês: um equívoco

Ainda o turbilhão da campanha eleitoral não tinha terminado, era 6ª feira 14 de Fevereiro, quando, estupefactos, lemos um extenso artigo publicado neste mesmo jornal (Correio do Minho) sobre a 'audácia' praticada por onze jovens ao subirem ao cume do Gerês.

Pela leitura desse texto era óbvio, para qualquer conhecedor daquela zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês, que não se tratava de nenhum feito digno de nota. Nós próprios já o fizemos em piores circunstâncias e já lá passamos 20 dias quase isolados de tudo e todos pela neve. Mas isso não vem para o caso...

Foi, de facto, uma aventura simpática. Mas para as centenas de amantes na Natureza que, quer no Verão quer no Inverno, vão lá acima, o relato da experiência foi, claramente, um empolamento narcisista de um punhado de bem intencionados.

E isto porquê? Porque, na realidade, o acesso às minas de Carris é árduo, é trabalhoso, mas é igual a tantos outros acessos a pontos isolados daquela Serra. É doloroso, talvez, efectuá-lo em tempo de neve e é imprudente efectuá-lo de noite, quando muito... Mas não é de modo nenhum um feito de 1ª página, uma lança em África ou no Gerês.

No entanto, como caminheiros habituados desse, e doutros mais esquecidos caminhos, respeitamos o esforço de quantos realmente apreciam e respeitam o Gerês.

E respeitar o Gerês não é desejar-lhe estradas asfaltadas, não é desejar-lhe o acesso indiscriminado de tudo e todos aos recantos mais inacessíveis, não é desejar-lhe, também, o seu esquecimento ou estagnação turística, não é, em síntese, ser ingénuo e fazer dele uma Natureza domesticada.

Respeitar o Gerês é respeitar-lhe a genuinidade, é visitá-lo sem o poluir e sem o estragar, é, acima de tudo, SABER DIVULGÁ-LO.

E foi a ausência dessa atitude inteligente que nos deixou verdadeiramente estupefactos; foi a evocação desnecessária do "Adamastor", foi o grito épico de "Só faltam quinhentos metros", foi o célebre "Casa à vista", foi a surpresa agradável das placas de esferovite que tanto jeito deram para a noite, FOI A POLUIÇÃO E A SELVAGEM DESTRUIÇÃO DAS CASAS QUE NÃO LHES SALTOU À VISTA, QUE NÃO LHES MOTIVOU UM PROTESTO SEQUER.

De facto, neste último ano, as poucas casas de apoio à mina que ainda tinham condições mínimas para abrigar, quem lá se deslocasse, das surpresas do tempo, foram a pouco e pouco irremediavelmente escavacadas por vândalos de circntância. E isto, apesar de visível, não provocou sequer um protesto.

O património da mina faz parte daquele meio ambiente há várias décadas; já lá existia antes de se imaginar, sequer, na criação do Parque. E como tal deveria continuar.

Quer porque com a sua destruição nada de positivo se abtém quer porque se perdem irremediavelmente exemplares interessantes de arquitectura industrial mineira implantados numa zona ainda selvagem. Já para não falar do espectáculo desolador de portas, telhados, vidros e caixilhos de janelas, espalhaos por toda aquela área (e sem esquecer as faladas placas de esferovite, isolantes e forro interno dos telhados).

Em suma, NÃO SE DEFENDE A DISSEMINAÇÃO INDISCRIMINADA DE CASAS E ABRIGOS POR TODO O PARQUE, MAS A DEFESA DO JÁ EXISTENTE E UMA ACTUAÇÃO CUIDADE DESSE DOMÍNIO, NUMA PERSPECTIVA EQUILIBRADA DA RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA.

Porque é que não se recrutam novos guardas florestais para pôr fim à devastação que o Parque vem sofrendo? É o Azevinho arrancado, é o Teixo a desaparecer, é a fauna, outrora riquíssima, que vem sendo devastada pelos inúmeros caçadores que demandam a região, são as incontáveis latas de conservas e as garrafas do mais variado tamanho e feitio espalhadas pela Serra, são, em suma, os montes de lixo que os turistas menos escrupulosos espalham monte fora.

Pensamos, sinceramente, que talvez a existência de guardas florestais qualificados pudesse acabar, pelo menos em parte, com esta verdadeira calamidade.

E não seria também boa ideia limitar o acesso a certas zonas do Parque? Abdicaríamos de bom grado dos passeios efectuados pelas zonas mais recônditas se disse resultasse, a médio prazo, uma significativa melhoria do meio ambiente (repovoamento florestal e animal AUTÓCTONES, por exemplo).

Pensamos que todos aqueles que, como nós, partilham da imensa admiração e respeito que o Parque nos merece, não hesitariam em abdicar também, para bem de todos nós e do próprio Parque, desses passeios. Passeios que efectuamos frequentemente, mas que acabam, SEMPRE, sem que deixemos atrás de nós algo que nos envergonhe.

Estas as questões essenciais que o texto do artigo em causa não soube o não quiz levantar. Estas as preocupações de qualquer visitante atento, mesmo do visitante circunstancial de fim de semana.

Finalizando, não poderemos ainda deixar de salientar o facto de que centenas de pessoas habitualmente demandam as minas de Carris e outros locais da Serra; que, de entre essas centenas, uns poucos estragem o que o resto respeita, e que tudo isso é feito apesar de "com acessos assim não se poder ir longe". Onde "eles" não iriam se pudessem ir longe...

Para que não haja equívocos, só queremis "acusar" os onze "audazes" de ligeireza, mas não de vandalismo. Estamos certos que se limitaram a testemunhar o que aqui descrevemos. Só os "acusamos" de não terem tocado nas questões realmente essenciais. NADA MAIS.

De resto, concordamos com todo o apêgo entusiasta por aquelas paragens por eles demonstrado, Porque, de facto, a Serra e o Parque são de todos, e ninguém detém o monopólio da admiração pela natureza.

Miguel Campos Costa
Hermínia Colmonero Gonçalves
Paulo Jorge Gomes Leite
Domingos Ferreira carvalho
Manuel Leite Costa Silva
Annekäthi Schaub
Jorge Mendes
Amélia Campos Costa

Fotografia: © Miguel Campos Costa / Rui C. Barbosa

7 comentários:

DuK disse...

Olá Rui,

Eu aqui à tempos comentei o seguinte neste blog:

Está na altura de se começar a definir o que é um PN em Portugal e essencialmente para que serve.

A mim o que me parece é que é uma reserva importantissima de biodiversidade, antes de tudo. O que não é de certeza é um Parque Aventura...

E só será "devolvido" a actividades de montanha quando estiver consolidada essa biodiversidade (que não está, nem para lá caminha). Por isso todos devemos antes de pôr as botas no trilho, saber se o que estamos a fazer é realmente o mais correcto e para isso temos de pensar primeiro que tudo no PNPG. Enquanto estivermos preocupados com o que podemos ou não fazer e se pagamos ou não e quantas dezenas de pessoas levarmos atras de nos, nunca teremos um PN consolidado de forma a podermos fazer o que gostamos.

Se um tecnico do PN diz que ali não se pode andar porque prejudica isto ou aquilo... há aqui alguem que tenha formação para dizer o contrario? Se calhar não há... ou se há que se acuse e fundamente!

A equação, penso eu, é matematica, investir para depois colher, preservar para depois usufruir. Se assim não fôr, não haverá PN para as gerações que ai vem...

E a pergunta que realmente se impoe é: Nos queremos que as gerações vindouras usufruam de um PN com corsos, lobos, cabras selvagens, garranos selvagens e afins?

Então se queremos (não é so andar nos blogs a dizer que se ama o Geres , etc), temos de pensar nele em primeiro lugar!!

Para isso se pediu regras, ou alias, que se cumpra e faça cumprir as regras pois elas já existem e não são nenhum bicho de 7 cabeças e muito menos limitativas de se caminhar no PN.



Feliz fico de perceber que não sou o unico a pensar assim.

Abraço!!

Bota Rota disse...

Olá Rui.
Não há dúvida que este texto é intemporal...

Boas DuK,
faço minhas as tua palavras... sem tirar nem pôr!

Aliás, se te candidatares a presidente, já tens um voto! ;-)

Abraço aos dois, Jorge sousa

MEDRONHO disse...

Referi várias vezes no blogue "UM PAR DE BOTAS" que os trilhos de pé-posto são as "auto-estradas" da serra. Sem elas todos os acessos são mt difíceis devido ao imenso "mato".
Sou um autentico leigo em termos de BIOdiversidade :(, mas questiono o impacto (?) de 10 pessoas subirem até aos CARRIS. Da última vez que lá passei (mt raramente o faço - n gosto do piso) em certos lugares o acesso já começa a estar tapado com pequenos arbustos. No próximo Verão quem lá for terá que levar uma catana.
Não partilho da ideia de um PNPG-MUSEU. Quem pode pagar entra, os outros são "invasores".
Em relação ao PNPG: muito, mas mesmo muito raramente VI caminheiros na serra. E qd os vejo são nos trilhos "rotineiros". Essa ideia que o PNPG está "invadida" de maus-feitores não a tenho - felizmente. Mas tenho a certeza que vai mt gente para as "lagoas" no Verão (portela do homem, teixeira...). Tirando isso o PNPG é uma calmia.
Já agora levanto uma questão: qual terá maior impacto 10 caminheiros ao passarem por um trilho de 6 em 6 meses, ou uma manada de gado que está lá 8 meses seguidos!?!?
(ahhh, pois o estrume)

p.s.: este Verão (infelimente) mais uma vez o PNPG foi devastado por incêndios...já sabemos as consequências. imaginemos "alguém" que nunca andou pela serra e imaginem o que perdeu...
(é para isso que serve um museu - mostras réplicas). Eu tenho a tendência de levar/mostrar o que gosto a "outros". tenho o gosto pela partilha.

voltando aos trilhos de pé-posto: qd havia gado/pastores no PNPG estes trilhos eram bem vistos, AGORA não.
(só pq mudamos o gado por pessoas)


"mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"

Rui C. Barbosa disse...

Caro Fernando,

Não é questão de o PNPG se transformar num museu. Antes de mais toma em atenção a data deste artigo: Fevereiro de 1986; põe-lhe mais 20 anos de divulgação em cima e terás um aumento exponencial do número de pessoas a caminhar pelo PNPG.

O facto de nós não as vermos não significa que elas não estejam lá. Como deves saber, fazem-se muitas actividades, caminhadas e afins que nós nem sonhamos. Alguém sabia do pessoal que se perdeu antes das notícias? Basta fazeres uma caminhada ao Vale de Teixeira, aos Prados da Messe, ao Mourô, aos Cornos da Fonte Fria, à Peneda, para veres pessoas na serra. Agora, é óbvio que o número vai-se distribuir ao longo do ano, mas a presença de pessoas na serra é constante.

É óbvio que nestas questões paga o justo pelo pecador. O número das pessoas que respeitam o meio ambiente e que sabem comportar-se é muito menor do que o número daqueles não só vão à serra para destruir ou numa manifestação de masculinidade: "Eu fui aos Carris e parti aquela mer.. toda! Até mandei uma parede abeixo e deixei lá o meu nome!" É possível mudar isto? Talvez.

Não considero os trilhos como as auto-estradas da serra, longe disso. Serão no máximo os caminhos municipais. Uma auto-estrada na serra é o estradão que nos leva ao Porto da Laje ou à Sr.a de Numão. Os trilhos existem lá por muitas razões: pastoreio, carvão, minas, peregrinação. E estes devem ser mantidos, preservados e utilizados pois cada um deles conta uma história diferente.

O Gerês invadido por maus-feitores? Sem dúvida: ele é o lixo, ele são os tags e os grafitis, ele são as mariolas pintadas, ele são as titas e fitinhas, ele são as casas destruídas, ele são as propiredades privadas invadidas, e muito mais.

A transumância faz parte integrante das montanhas portuguêsas e de muitas outras. Dizer que o gado tem um impacto negativo ou compará-lo com a presença de pessoas que deixam lixo, é uma comparação sem sentido. Não é o gado que mata as águias, persegue o lobo, destrói os habitats das espécies que o PNPG pretende proteger.

Como sabes, o acesso aos Carris é a zona do PNPG onde não podes chegar de carro e onde encontras mais visitantes. De facto, em termos de percentagem deve ser comparável a outras zonas 'turistícas' do PNPG (ressalvando as curcunstâncias, como é óbvio). No entanto, e apesar de todas as semanas por lá passar gente, o caminho tornou-se num matagal onde em certas zonas só passa uma pessoa de cada vez. (In)felizmente alguém se lembrou de cortar o matagal por estes dias e o caminho que foi auto-estrada e passou a municipal, é de novo uma auto-estrada... ou quase!

Na situação actual, eu sinceramente não sei por ainda insistem no "Quem pode pagar entra..." Suponho que te referes às taxas? Como já estou um pouco cansado de andar sempre a repetir a mesma coisa, sugiro que, como representante de um clube de montanha, te informes a sério sobre esta questão. É que quando eu pergunto ao PNPG sobre este assunto, obtenho sempre a mesma resposta! Talvez já eles estejam cansados de me aturar e como tal dizem-me o que eu quero ouvir. Por isso, seria bom alguém perguntar o mesmo, pode ser que ajude na resolução do problema.

Bom, por agora chega! Trata mas é de organizar outra ida aos Picos que já tenho saudades de sentir as pernas a tremer sobre o peso da mochila!! ;)

Abraço!

DuK disse...

Olá a todos,

Eu também não percebo de biodiversidade, por isso "acato" as indicações de quem percebe.

No que diz respeito ao gado, é inegavel que o caminhante tem muito menos impacto que o gado, quanto mais não seja porque não come tudo quanto é rebento que esteja a sair da terra. Mas a questão do gado é muito mais pertinente que o que possa parecer pois implica, habitantes e terras privadas, etc. Outros assuntos.

Continuando a questão do impacto vou apenas dar aqui um exemplo, que apesar de simples, me parece ilustrativo daquilo que achamos conhecer.. ou não: Na penultima subida aos Carris que fiz, fi-lo já após o anoitecer e como tinha lido antes uma noticia na imprensa fui especialmente atento (uma noticia do JN salvo erro) aos repteis que poderia encontrar pelo caminho . Após as Abrotegas, contei ate as minas, qualquer coisa como 5/6 tritões, 2 salamandras e diversas pequenas rãs ao longo do trilho . Como so ia com mais uma pessoa, permitiu-me estar mais atento e e permitiu-me não calcar nenhum desses animais (um tritão não foge, fica estático), se fosse com mais pessoas talvez fosse mais distraido e talvez tivesse (ou não) calcado 1/2/3 desses repteis...

Com certeza ninguem se lembraria especialmente de estar atento a repteis no meio do trilho, nem eu o faria não fosse a feliz coincidência de ter lido essa noticia, principalmente durante a noite.

No que diz respeito aos tais "mal-feitores" só posso dizer que não sei o que se pode chamar a alguem que vai para uma serra, supostamente para usufruir e contemplar a mesma e levar no bolso das calças um lata de tinta... não entendo! Mas como as coisas aparecem escritas não posso deixar de constatar que eles existem e são mal intencionados.

Eu no que diz respeito a outros caminhantes não posso dizer que tenho a mesma sorte, ainda há pouco tempo comecei na Encosta da Cantina a ouvir as cerca de 40 pessoas que armavam uma grande algazarra no prado do Mourô.

Não percebo também a diferença entre se ir visitar o Xures e ir primeiro as casas do PN deixar o nº de BI (as vezes nem isso é necessário), visitar o Pico nos Açores e efectuar a respectiva autorização (obrigatoria) e caminhar no PNPG e não o fazer...
O PNPG não consegue, de facto, responder atempadamente aos pedidos de autorizações e o sistema que têm montado, roça o ridiculo e já por diversas vezes lhes manifestei o meu desalento, tendo os mesmos respondido que num futuro breve o poderemos fazer nas portas do PN, na hora!

Eu de todas as autorizações que pedi, so uma me foi recusada e nunca me pediram um tostão.

Se me perguntarem se eu prefiro caminhar em determinado local apenas com 2/3 pessoas ou não caminhar de todo, eu prefiro reduzir a minha "partilha", nem que vá sozinho.

O que continuo a ter esperança, é que as pessoas pensem 1º no sitio para onde vão e só depois com quem vão, quantos, como e se vão a fazer o pino ou ao pé-coxinho e se pagam ou não pagam!

As SCUT´s estão aí, se todos tivessemos o mesmo comportamento que 80% dos caminhantes que percorrem o Gerês, ainda ninguem as tinha pago sequer. Mas pagam... todos! Porquê? Porque são multados e depois pagam "com lingua de metro"...
Como não há efeito dissuador... assim vai este (unico) PN em Portugal!

Margarida Cardozo disse...

Obrigada,Rui!
Beijo.
Margarida

joca disse...

Onde não houver equilíbrio o mais certo é haver um erro. Para mim essa é a questão: haver ou não haver equilíbrio.

É que um bom argumento se usado sem equilíbrio pode acabar por defender um erro. Escrevo isto com a justa consciência que até me pode ser devolvido.

Eu defendo a visitação. Ainda que possa ter dela um conceito diferente de outras pessoas. Não defendo que todos possam ir a todo o lado sempre que quiserem, mas nunca percebo a ideia de "reserva". Uma coisa é haver zonas condicionadas (que serão por definição uma pequena parcela do todo), outra coisa é o delírio do PanParks.

O Gerês não é o Yellowstone ainda que isto custe a certos senhores. O PNPG possui uma história e um enquadramento que precisa de ser respeitado. Muita gente nunca reflectiu sobre a génese de muitas áreas naturais e deveria fazê-lo. Encontram-se coisas muito interessantes. Há bem perto de nós uma área protegida que julgo ter sido criada na segunda década do século vinte para coutada através da expulsão das populações. Ainda que hoje possa ser muito agradável de andar por lá, será que não devemos reflectir sobre a violência exercida sobre as populações? Será civilizacionalmente aceitável?

Há uma tendência para fazer do homem um problema na equação da biodiversidade, mas não será um erro. Ainda recentemente li sobre impacto negativo que o despovoamento e o abandono de actividades tradicionais como o pastoreio está a ter em certas espécies naturais. O mesmo se pode dizer de certas práticas agrícolas. Não devo dizer uma asneira muito grande se defender que se os prados de altitude, que o pastoreio mantém abertos, desaparecerem a biodiversidade do PNPG será muito afectada.

Claro que com isto não quero defender que as actividades humanas não tenham efeitos negativos. É claro que há impacto. O importante é fazer a avaliação, monitorização e controlo. É que acabar com elas poderia ter efeitos piores. É tudo uma questão de equilíbrio.

Caminhar causa impacto? Certamente, basta pensarmos como é que os trilhos de pé posto se mantém abertos ao nível do solo. A simples compactação do terreno chega para os manter abertos. É por isso que procuro sempre seguir pelos trilhos abertos e nunca por fora deles. Só que, como uma biblioteca fechada não cria cultura, um parque nacional fechado cumpre a sua missão? Mais uma vez é o equilíbrio.

Recordemos que:“A criação do Parque Nacional da Peneda-Gerês (Decreto-Lei n.º 187/71, de 8 de Maio) visou a realização nessa área montanhosa de um planeamento capaz de valorizar as actividades humanas e os recursos naturais, tendo em vista finalidades educativas, turísticas e científicas” – in site ICNB.

O meu maior problema é que me custa encontrar equilíbrio no ICNB. Começa pela logo afirmações demagógicas sobre o único parque nacional e coisa e tal. Se é assim, não seria lógico que essa valorização também fosse relevada no orçamento disponível para o PNPG. É que esse deveria ser o verdadeiro critério de diferenciação. Será que o ICNB fez alguma vez do seu único parque nacional uma prioridade orçamental? Tenho sérias dúvidas.

Quanto ao artigo. ele está sem dúvida actual. Hoje, como ontem, há gente com o espírito errado no Gerês. Mesmo que hoje as margens da albufeira de Vilarinho já não tenham o campismo selvagem da altura. O Gerês dos postais, das lagoas estivais, cria uma pressão enorme sobre o PNPG. Hoje como ontem haverá sempre os que buscam o Gerês pela vã glória. Houvesse capacidade de conter os “estivais” fora das áreas de montanha e fazer da montanha uma experiência diferente e pedagógica.

Apesar de tudo nos últimos tempos, com as portas e outros equipamentos, foram dados alguns passos positivos e espero que possam dar frutos. No futuro faremos a sua avaliação. Por agora sejamos optimistas. Nem que seja para manter o equilíbrio.