quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Villegiatura e a Serra (VII)

Em 1891 era editado o livro "Caldas do Gerez - Guia Thermal" da autoria de Ricardo Jorge. Esta obra aborda vários temas relacionados com o termalismo geresiano, as suas águas termo-medicinais, a sua acção hidro-termal, a clínia hidrotermal, etc. Um dos capítulos mais interessantes está relacionado com a denominada "villegiatura", isto é a "temporada que se passa fora da terra, a banhos, no campo ou viajando, para descansar dos trabalhos habituais."


Assim, Ricardo Jorge fala-nos de paisagens conhecidas e das sensações que elas proporcionam começando por uma viagem entre Braga e as Caldas do Gerês...

O texto transcrito abaixo é mantido na sua forma original e com o português que era escrito em finais do Século XIX.

A Villegiatura e a Serra, por Ricardo Jorge

"(...)

A SERRA, A Serra do Gerez; que de tradições de bellezas naturaes, afamadas pela recordação viva dos viajantes e pelos trechos enthusiastas dos naturistas! Se todo o Portugal é um paiz pitoresco, o Gerez realça como o mais formoso trecho do seu solo abençoado.

Arrancar exclamações de transporte, aos que possuem a mais delicada esthesia dos quadros de montanha, aos que se dedicaram na digressão pela nossa provincia mais encantadora, e sobretudo áquelles que d'outras terras nos visitam, que se extasiaram perante as serras florestadas mais celebras da Europa, é um titulo d'ufania para a nossa serra. O recorte exquisito dos seus macissos e cumiadas, as suas mattas virgens alastradas por valles e alturas, os mananciaes abundantissimos d'agua que por toda a parte jorra do seu ventre e joga em cascatas pelos fraguedos, o typo especial da flora e a curiosidade da fauna, imprimem-lhe um caracteristico de superior encanto para todos os que commumguem no culto da montanha.

Bem o disse Link, que ao transpor o Cavado se passou o Lethes mythologico. Empolga-se o espirito da sugestão cultural da montanha; como que nelle se concentra aquela grandeza immensa, a enormidade das alturas, a enormidade das massas. E toda aquella vida eshuberante e liberrima, independente e nova, incute uma sensibilidade vigorante á alma alquebrada nos embates rasteiros da lucta social. O cultualismo da montanha, que tem alli um dos altares sagrados, possue uma sensualidade mystica, um poder roburante, como nada mais, na indestructivel idolatria da natureza."

(...)"

Fotografia: © Ilustração Portuguesa; Edição - Rui C. Barbosa 

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