sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O estertor das Minas dos Carris


Com os custos de produção a ultrapassar os lucros da empresa, a lavra é suspensa em finais de 1973. Neste ano os registos oficiais indicam que foram obtidos 16,510 toneladas de volframite com 70,00% e 17,929 toneladas de mistos de scheelite e cassiterite com 30%, correspondendo ambas as quantidades a 16,936 toneladas de volfrâmio; com a cassiterite a 30 % correspondente a 5,379 toneladas de estanho.

Segundo o documento que solicita o estatuto de adequada reserva para as restantes concessões enviado a 31 de Janeiro de 1973, a Sociedade das Minas do Gerez refere que a concessão do Salto do Lobo teria produzido em 1972 cerca de 28,100 toneladas de volframite; 5,000 toneladas de scheelite e 23,930 toneladas de mistos, os quais após devidamente tratados terão produzido 2,113 toneladas de volframite; 5,095 toneladas de scheelite 825 kg de cassiterite e 4,010 toneladas de molibdénio. Estes valores não coincidem com os valores que foram indicados no quadro de produção referente ao ano de 1972. Neste quadro é indicado que foram obtidos 36,213 toneladas de volframite com 70,00% correspondendo a 25,349 toneladas de volfrâmio; 10,095 toneladas de scheelite com 70,00% correspondente a 7,068 toneladas de volfrâmio; 0,825 toneladas de estanho com 70,00% correspondendo a 0,577 toneladas de estanho; e 4,010 toneladas de molibdenite. Da mesma forma, no documento semelhante que é enviado a 31 de Janeiro de 1974, é referido que a concessão do Salto do Lobo teria produzido em 1973 cerca de 16,510 toneladas de volframite; 17,989 toneladas de mistos de scheelite e cassiterite que corresponderam a 24,107 toneladas de volframite e estanho.

A tabela seguinte mostra os dados oficiais dos elementos para a contribuição industrial dos anos de 1971 a 1974 e do ano de 1979.


Conforme é referido no pedido de actividade produtiva no ano de 1975 para a concessão do Salto do Lobo enviado para a Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos a 25 de Março de 1975, a concessão não atingiu em 1974 a produção prevista em virtude da falta de mão-de-obra. Nesta mesma data são enviados os pedidos de suspensão de lavra para as concessões das Minas dos Carris juntamente com o pedido de suspensão da lavra para a Mina do Castanheiro, evocando a falta de mão-de-obra especializada. A 3 de Maio todos estes pedidos são diferidos a título precário até 31 de Dezembro desse ano, com o texto do deferimento a ser emitido a 25 de Julho e com a decisão a ser publicada em Diário da República a 7 de Agosto (Diário da República n.º 181 – IIIª Série de 7 de Agosto de 1975, página 6121).

O quadro seguinte mostra as quantidades de minério extraído nas Minas dos Carris entre 1971 e 1973. Segundo Virgílio Murta, “para que a mina tivesse a produção indicada no quadro para 1971, teria sido necessário reorganizar tudo, tarefa que é muito demorada e para o que seria conveniente contactar com quem tinha fechado e conhecido bem a mina (eu próprio) e os encarregados, o que não foi feito. Parece-me portanto que há grande confusão originada por esse quadro. Por outro lado, nele é indicada uma produção de 51,275 t de volframite. Isto corresponde a um desmonte de rocha de cerca de 14.650 t, ou seja, de cerca de 5.400 m3. Para uma largura de desmontes de 2 metros, isto corresponde a 2.700 m2 de área vertical, ou seja, de mais de 135m de desmonte e galerias em direcção, o que duvido tenha sido feito… Talvez se trate de existência estimada, na mina, mas não de produção em 1971.”


Em 1974 o acampamento mineiro dos Carris está novamente abandonado e nele somente permanece um guarda que de tempos em tempos vai recebendo mantimentos e o seu salário entregue por alguém da administração da Sociedade das Minas do Gerez, Lda. O regime muda em Portugal a 25 de Abril de 1974 com a Revolução dos Cravos. Muitas das empresas são nacionalizadas, mas a Sociedade das Minas do Gerez mantém-se nas mãos dos seus sócios. Isto facilmente se poderá explicar pelo pouco valor que a industria dos metais volframíticos teria na altura, aliás esta é uma das razões que terá levado ao encerramento da mina aliado ao facto de haver um crescimento salarial insuportável. Com a situação pouco favorável em Portugal para aqueles que apoiavam o anterior regime, as Minas dos Carris servem como refúgio e rota de fuga para Espanha de muita gente conectada com a direita no Norte do país (Por correspondência electrónica com Carlos Sousa a 11 de Dezembro de 2007; De notar que Alexander Schneider Scherbina era casado por Manuela Pinto de Azevedo, membro de uma família do Porto ligada ao antigo regime, Por correspondência electrónica com Carlos Sousa a 11 de Dezembro de 2007). Curiosamente, os Carris parecem ter sido sempre um ponto de fuga privilegiado tanto após, como antes da Revolução dos Cravos.

Apesar das concessões terem os seus trabalhos parados, o volfrâmio e outros minérios das Minas dos Carris são ainda comercializados em 1979. Segundo Carlos Sousa, nos anos 70 e 80, e já com a mina completamente desactivada, ainda se exportava volfrâmio mensalmente para Inglaterra como produzido pela Sociedade das Minas do Gerez, Lda. De notar que nestes anos, Carlos Sousa foi comerciante e vendedor de estanho e volfrâmio na empresa de matérias-primas Phibro, da qual José Rodrigues de Sousa havia sido comerciante em Moçambique e África do Sul nos anos 60 e 70. A partir de Londres, a Phibro comprava toda a produção de volfrâmio exportada de Portugal e um dos fornecedores era José Inácio, com material comprado aos apanhistas por todo o Norte de Portugal mas que ele exportava em nome da Sociedade das Minas do Gerez, Lda. . A produção de diferentes minérios nas Minas dos Carris está descrita no Quadro 8.

Apenas guardado por um guarda que ia aproveitando a madeira das estruturas para sua utilização pessoal, o complexo mineiro foi-se degradando entrando numa espiral de destruição, desprezo e vandalismo que o conduziriam à inutilidade total. No entanto, iam-se fazendo tentativas para retomar a exploração mineira numa conjuntura nada favorável. A Sociedade das Minas do Gerez, Lda. ia mantendo uma gestão quase residual das suas concessões mineiras na Serra do Gerês, solicitando pedidos de suspensão de lavra baseados na dificuldade de obtenção de pessoal qualificado. Tais pedidos foram feitos a 15 de Março de 1976, 10 de Março de 1977 e a 17 de Março de 1978. Até Outubro de 1978 a empresa teve perdas acumuladas no valor de 2.947.633$00 que eram agravadas por dívidas a longo prazo de 4.597.680$00.

É nesta altura que a sociedade mineira consegue obter um crédito bancário estrangeiro, garantido pela firma MINREFCO, com base num contrato de promessa de cessão de quotas entre os sócios e a empresa.

A tabela seguinte mostra as produções da concessão do Salto do Lobo entre 1950 e 1958 e entre 1971 e 1974.


Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013)

Fotografia e tabelas © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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