quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Histórias do povo de Cabril - A Cigarra e o fim de um dos pinheiros silvestres mais antigos da Serra do Gerês


O Pinus Sylvestris L., é uma árvore que está em regressão desde o final da glaciação de Würm, É uma espécie documentada desde o século XVIII com os núcleos de Biduiça e Matança a verem o seu carácter de árvore Autóctone da serra do Gerês na sequência de recentes estudos genéticos, sendo assim as únicas populações autóctones conhecidas em Portugal. 

São árvores com cerca de 40 metros de altura e é muito comum ultrapassar em termos de longevidade os 250 anos, em Portugal só próspera acima dos 700 metros. 

Além dos núcleos de Biduiça e Matança, existem alguns pinus sylvestris l. isolados na serra do Gerês como é o caso dos de Lamalonga e da Cigarra que serão provavelmente os mais antigos. O Pinheiro da Cigarra sempre foi aquele que junto das populações mais admiração causou, sendo muito comentado e quase todos o conhecem. Sempre causou estranheza essa árvore sozinha no meio do nada, um pinheiro grande, que sempre se lembram de ser assim, nem maior, nem mais pequeno, já os avós e bisavós assim o conheceram. A Cigarra e o seu pinheiro sempre foi um dos lugares mais místicos da serra do Gerês, sempre foi olhado pelos pastores e populares como um lugar diferente, um lugar onde existiam encantamentos e grandes tesouros que era necessário quebrar o encanto, dizem que para esses encantos quebrar é necessário um padre e o livro de S. Cipriano (livro muito famoso nestas populações ) e acima de tudo não ter medo!!! Os mais velhos contam que alguns já tentaram, mas sem sucesso, e os grandes tesouros por lá continuam. É na Cigarra que também existe o penedo que tem uma viola desenhada, também ela uma pedra encantada, era também na Cigarra que começava a Serra dos Bois, para as populações locais era o começo da serra alta, um lugar reservado só aos bois, as vacas não poderiam pastorear por estas bandas, era lhes proibido. 

Tudo isto se passava na Cigarra e à sombra do seu pinus sylvestris, um cenário que vai ser difícil de se repetir, pois com os incêndios do último Verão o Pinheiro da Cigarra acabou por sofrer alguns danos que poderão ditar o seu fim, e o fim de um dos emblemas da serra do Gerês, e dos povos das aldeias de Cabril.




Um muito obrigado ao Pinheiro da Cigarra, pois a tua importância fez com que muitos de nós antes de te conhecer, já te conhecíamos tal era a forma como eras falado e comentado por toda a população, assim como admirado por resistires sozinho durante centenas de anos no meio do nada e em condições extremas. 

Só o fogo e o homem é que conseguiram tirar a tua sombra e o teu encanto.

Texto de Ulisses Pereira

Em relação ao Pinheiro da Cigarra, talvez o autor deste blogue tenha sido a última pessoa a ver aquela paisagem antes do fogo chegar. Naquele dia, vi o incêndio tomar conta de vales e corgas enquanto caminhava entre os Prados da Messe e Lagoa. Na altura, referi a quem combatia o fogo que este trepava já nos alcantilados de Premoinho em direcção às Mestras e que não tardava chegaria a Cidadelhe. Não chegou aqui, mas a paisagem mudou. Resta-me o consolo de olhar para o Pinheiro da Cigarra e ter a esperança de que pudesse / possa resistir.

As fotografias mostram o Pinheiro da Cigarra algumas horas antes da chegada do fogo.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

1 comentário:

Carlos Afonso disse...

Sim e verdade, os pinheiros silvestres estao a acabar na nossa serra, mas nao serao so os pinheiros a gente esta a acabar tambem.
Na minha aldeia ainda me lembra de vivermos 60 pessoas hoje estamos ca 8, uns anos mais e acabara.
Infelizmente o 'famoso' parque tem contribuido para tal tambem isto em meu ver, onde quase tudo e proibido a gente e obrigada a deixar esse lugar.
Do outro lado da fronteira bem perto da mesma havia o maior bosque de azevinho da area lugar que eu bem conheco chamado de azevinheiros e onde guardei gado, conheço esta area como a palma da mao (desde a lagoa do marinho ate barjas de conde em pitoes) a tres anos esse bosque ardeu. Enquanto nao foi probido chegar fogo e forao os naturais a fazelo tudo ia resistindo desde que veio o famoso parque e interesses centrais tudo esta a acabar. Agente e que faz a terra, a agente e que cria, esqueceraose quando fundarao o parque ja depois de eu ter nascido que esta area era assim como era porque havia o factor humano, pouco a pouco forao acabando con esse elo e hoje esta serra para mim que sou do outro tempo e simplesmente uma desolaçao.
Carlos Afonso